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Todo mundo morre no final
De Wroclaw, Polônia
Na pequena cidade de Worclaw, no interior da Polônia, aconteceu o Festival Internacional de Teatro The World As A Place Of Truth organizado pelo The Grotowski Institute. Durante todo o mês de junho grandes nomes do teatro contemporâneo intercambiaram seus trabalhos para uma plateia quase toda formada pelos próprios atores que se apresentavam no festival. A primeira semana foi dedicada a Eugenio Barba e seu último trabalho: Ur-Hamlet.
A peça foi montada no pátio da antiga arcádia da cidade que guarda a arquitetura de um pequeno forte com enormes portões de madeira e paredes de tijolos. Utilizando diferentes estilos de teatro ritual, Barba monta de fato um ambiente que invoca o clima de uma cerimônia. A peça foge da representatividade e do conceito textocêntrico, falando diretamente ao centro dos sentidos, ao sistema nervoso. Os espectadores participam desse ritual antropológico.
Sobre Saxo, Hamlet e a performance
Hamlet, Don Juan, Doutor Fausto e Arlequim são arquétipos bastardos que não conhecem suas mães e seus vários pais. Eles adentraram em nossa cultura moderna através das primeiras companhias profissionais especializadas em vender entretenimento no nascimento do teatro Europeu, na ‘Era de Ouro’ entre os séculos XVI e XVII.
Estes foram anos de pragas, suspeitas, massacres, intolerância e guerras religiosas. Hamlet, Don Juan, Doutor Fausto e Arlequim chegaram ao palco escondendo sua natureza bárbara e feroz sob um arco-íris de comentários bem-humorados e pensamentos profundos. Todos os quatro eram peritos na arte de se livrar de seus adversários com armas, sagacidade e feitiços. O cheiro de uma cultura refinada dissimulou seus odores acres de sangue, sexo e violência, transformando-os em jóias da arte. Assim, eles não são mais capazes de nos assustar. Nesse traje fantasioso, poético, filosófico e melancólico, eles vivem nos livros escolares e perfumam a nossa vida intelectual adulta. Mas a sua substância original, crua e sem ilusões, faz deles nossos irmãos zombeteiros e repugnantes, bem ajustados ao nosso século XXI.